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sábado, 22 de outubro de 2011

Informação, desinformação e contra-informação (2)


(...)

2. A contra-informação nas suas obras vivas

Ninguém precisa dos mortos”

Bryan Forbes

As acções de contra-informação exercem-se porque existe um público do outro lado que ou está atento aos acontecimentos nas diversas áreas societárias (políticos, económicos, científicos, fideístas) ou, não o estando ainda, é susceptível de disponibilidade uma vez para eles chamada a sua atenção mesmo que de forma especiosa, forjando-se um movimento de simpatia ou de recuo conforme as acções sejam activas ou reactivas.

Assim sendo, é necessário analisar-se argutamente esse público, perscrutando as suas características conformativas: grau cultural, preconceitos ou tendências, nível de exigência ética ou humana, capacidade de empenhamento, etc.

Em seguida, estudar-se a forma de confeccionar um discurso apelativo, facilmente reconhecível para que haja uma boa adesão, moldável mas nunca integralmente falso ou desbocado (não deve nunca descer às injúrias, como é de uso estar a suceder nos tempos já interactivos modernos em fóruns ou espaços afins, aliás geralmente ineficazes ou sem qualidade), nem arvorar violências verbais desbragadas (que o público em geral não partilha ou de que não gosta). Esse discurso quase credível deve ser conformado ora por pequenas nuances, pequenos detalhes habilmente distorcidos mas partindo de bases reais, ora discretamente repetidos (técnica da lente de aumentar), ora vindos das razões do adversário, mas modificados e moldados como num reflexo (técnica da imagem no espelho ou da inversão).

Em toda este verdadeiro rol de situações específicas, os contra-informadores competentes nunca perdem de vista o contexto em que os factos estão integrados, o seu timing e a sua possível eficiência e operacionalidade. Muitas tiradas contra-informativas até usam aparecer em público travestidas de trechos analíticos cinéfilos, desportivos, de sociedade…

Basta lembrarmo-nos do que sucedia nos tempos da segunda guerra mundial, ou nos tempos da guerra fria, ou nos da actual détante ocidental vigiada de perto pelo fanatismo islâmico - e ficará feita a constatação.

Em suma: a contra-informação competente, sendo activa, cria um ambiente massivo favorável à eventual propaganda que se lhe segue, imediata ou mais espaçadamente (por vezes é necessário que certas ideias ou conceitos sedimentem suficientemente, para ficarem melhor incrustados nas cabeças dos alvos a manipular com intuitos salvíficos ou maléficos). Sendo reactiva, pode conseguir rasurar de forma capaz situações de risco propiciadas por dirigentes relapsos ou por dificuldades legítimas no mundo da confrontação entre estados.

Como corolário, conclua-se que existem bons e eficazes serviços de contra-informação (não estamos, obviamente, a referir-nos à sua bondade social, mas à sua qualidade operativa). Os da ICAR são um exemplo positivo, tanto mais que têm a vantagem de ser servidos pelas características e afinidades do seu público mapeável. Outros serviços mais ou menos exemplares: os britânicos, cuja experiência vivificada pela grande confrontação mundial contra os nazis e as forças de leste nunca se viu irrevogavelmente posta em cheque. Em certos campos, legitimamente, também os serviços americanos conseguem bons desempenhos, ainda que nos casos de Rosswell e dos montes Palomar, por exemplo, tenham ficado um bocado de calças na mão como sói dizer-se.

No que aos soviéticos respeitava, se em certos campos, principalmente da propaganda tout court, conseguiam resultados muito razoáveis, ajudados aliás pelos adeptos das suas doutrinas vivendo no Ocidente, a nível de contra-informação viam-se limitados pela retórica matraqueante dessa mesma doutrina, que internamente era algo ineficaz e pouco credível porque confrontada pelas realidades que os cidadãos viviam quotidianamente.

Nos países islâmicos a contra-informação é praticamente inexistente enquanto disciplina reservada, tendo sido substituída ou tendo sempre existido sob a feição de discurso intensivo feito a partir das doutrinas religiosas que os enformam.

Em conclusão: a contra-informação sempre foi um dado que explicava muito razoavelmente uma certa sociedade, uma certa maneira de viver, um certo continente existencial se observado com alguma penetração.

Nos nossos dias, o que não deixa de ser, e é mesmo, absolutamente significativo e muito característico duma sociedade que vive sob os signos mediático e interactivo, a contra-informação que conseguimos detectar (uma vez que os sigilos reais e perfeitamente afastados do homem comum controlados pelos condutores da coisa pública e da casta de topo são indubitáveis) ela começa a ser a dona e senhora de um certo ambiente, de uma certa quotidianeidade, de uma certa existência social.

Um algo inquietante “estado de normalidade”, como muito apropriadamente escreveu no TriploV Maria Estela Guedes?

Franca e sinceramente, eu não levantaria voz nem figura para formular expressão diferente ou para discordar!

Bibliografia de base:

A escola dos ditadores – Ignazio Silone

A informação – Fernand Terrou

A caçada sem fim – Bryan Forbes

O terceiro Reich visto por dentro – Albert Speer

A propaganda política – Jean-Marie Domenach

El medio media – Lorenzo Gomis

Ofício de espião – Allen Dulles

Eu não sou uma lenda – Jacques Bergier

História da minha vida – Sir Winston Churchill

(cont.)

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